Montenegro divulga lista completa de clientes da empresa familiar antes de debate com Pedro Nuno Santos

A poucas horas do debate televisivo com Pedro Nuno Santos, o primeiro-ministro Luís Montenegro entregou uma nova declaração de interesses à Entidade para a Transparência (EpT), onde revela a lista completa de clientes da empresa Spinumviva, que anteriormente era detida pela sua família e que agora está em nome dos seus filhos.

O recuo na posição inicial de manter sigilo sobre parte dos clientes surge numa altura de forte escrutínio político. Até agora, apenas cinco empresas eram conhecidas como clientes permanentes da Spinumviva — Ferpinta, Rádio Popular, Solverde, CLIP e Lopes Barata – Consultoria e Gestão. No entanto, segundo avançado pelo Expresso, a nova declaração inclui várias outras entidades para as quais a empresa prestou serviços.

Entre os novos nomes divulgados constam a Cofina — que Montenegro já tinha referido no Parlamento — e outras empresas como a ITAU, Sogenave, Portugalenses Transportes, Beetsteel, INETUM Portugal e Grupel SA.

Adicionalmente, o primeiro-ministro indicou também duas sociedades pertencentes ao grupo Joaquim Barros Rodrigues e Filhos, gasolineira de Braga, cujos contratos com a Spinumviva já eram de conhecimento público e foram apontados como decisivos para o aumento da faturação da empresa. Trata-se das empresas Rodáreas (Felgueiras–Lousada) e Rodáreas (Viseu), para as quais foram realizados trabalhos de consultoria na área da reestruturação empresarial.

O caso Spinumviva: do sigilo à polémica pública

A polémica em torno da Spinumviva começou quando se soube que Luís Montenegro, antes de ser primeiro-ministro, mantinha ligação a esta empresa de consultoria, fundada pela sua família. A empresa prestava serviços a várias entidades privadas, algumas das quais continuaram a contratualizar com a Spinumviva mesmo depois de Montenegro assumir cargos políticos de relevo.

A questão ganhou dimensão política quando Montenegro se recusou inicialmente a divulgar a lista completa de clientes, alegando dever de confidencialidade. Esta decisão foi duramente criticada por adversários políticos e especialistas em ética pública, que viam no caso um potencial conflito de interesses e falta de transparência.

Pressão política e impacto eleitoral

A divulgação total surge numa altura em que Pedro Nuno Santos, líder do PS e principal adversário de Montenegro, tem pressionado publicamente o primeiro-ministro a esclarecer todas as ligações empresariais e financeiras do passado. A acusação de falta de transparência tem sido um dos cavalos de batalha do PS nesta pré-campanha.

Ao entregar esta nova declaração pouco antes de um importante debate televisivo, Montenegro procura aparentemente esvaziar o tema como arma política do PS. No entanto, críticos questionam o timing da divulgação, considerando-o tático, e defendem que o primeiro-ministro só atuou quando já não podia manter o silêncio sem custos eleitorais.

Resta agora saber se esta revelação será suficiente para dissipar as dúvidas levantadas ou se o caso Spinumviva continuará a marcar o debate político até às eleições.