Rui Rocha anunciou, de forma inesperada, a sua saída da presidência da Iniciativa Liberal (IL), após dois anos e quatro meses à frente do partido. A decisão surge na sequência de resultados eleitorais aquém das expectativas nas últimas legislativas, onde, apesar de um pequeno aumento de representação, os liberais não conseguiram influenciar o Governo da AD, como ambicionavam. O líder demissionário justificou a sua saída com uma reflexão profunda e afirmou que a sua decisão de não se recandidatar visa abrir espaço para um novo ciclo na liderança do partido.
A Iniciativa Liberal, que desde a sua fundação em 2017 já experimentou várias mudanças de liderança, entra agora em mais um período de introspeção. Contudo, ao contrário do que aconteceu na transição entre João Cotrim Figueiredo e Rui Rocha, quando este último foi rapidamente apontado como sucessor, o partido parece mais cauteloso nesta fase. A IL revelou que um processo de reflexão interna será conduzido, sem avançar imediatamente com qualquer nome para a futura liderança, embora o partido esteja atento a figuras com uma forte presença na Assembleia da República.
A liderança de Rocha, apesar de ter sido marcada por uma expansão do partido, não se traduziu na ascensão eleitoral esperada, o que gerou insatisfação interna. A IL perdeu um deputado em Lisboa, mas conseguiu conquistar um novo mandato em Aveiro, o que manteve o grupo parlamentar sem grandes alterações. No entanto, o partido não conseguiu atingir os objetivos ambiciosos de influenciar a política governamental, algo que Rocha admitiu não ter sido alcançado.
O líder demissionário mostrou-se desapegado ao cargo, afirmando nunca ter estado “agarrado” ao posto, e indicou que a sua saída é uma consequência dos resultados das eleições. A falta de um avanço significativo nas urnas, num cenário de crescente dinâmica à direita, deixou em aberto a questão sobre a liderança da IL: terá o partido chegado ao seu limite ou será necessário uma mudança na forma de liderar?
Embora o nome de Mariana Leitão seja apontado como o mais provável para suceder a Rocha, outros nomes também têm sido discutidos dentro do partido. Leitão, que é atualmente líder da bancada parlamentar da IL e candidata à Presidência da República, destaca-se pela sua visibilidade mediática e pela sua ascensão meteórica dentro do partido. A sua trajetória, incluindo uma vitória na eleição para o Conselho Nacional e a sua experiência como deputada municipal, coloca-a numa posição privilegiada para assumir a liderança.
No entanto, há também quem olhe para Mário Amorim Lopes como uma alternativa viável. Com um perfil alinhado com a corrente da liderança de Rocha, Amorim Lopes tem ganhado notoriedade dentro da bancada liberal, destacando-se em aparições públicas e em podcasts dirigidos ao eleitorado jovem da IL.
Apesar dos nomes mais evidentes, os liberais continuam a olhar com algum distanciamento para antigos líderes como João Cotrim Figueiredo e Carlos Guimarães Pinto. Cotrim Figueiredo, que foi um dos responsáveis pela transição de liderança para Rui Rocha, não parece disposto a regressar ao cargo de presidente, dado o seu atual compromisso com o Parlamento Europeu. Por outro lado, Guimarães Pinto, ainda uma referência dentro do partido, afastou-se da vida interna da IL desde que deixou a liderança, o que torna improvável o seu retorno.
O futuro líder da Iniciativa Liberal terá de navegar num cenário político complexo, com um Governo da AD minoritário, um PS em processos de remodelação interna e um Chega em ascensão. A IL, após a saída de Rui Rocha, entra numa nova fase de reflexão interna e prepara-se para mais uma eleição interna, onde o nome do novo líder deverá ser decidido com cautela e estratégia, num momento crucial para o futuro do partido.
A Convenção da IL, que ocorrerá em breve, deverá confirmar a escolha do novo presidente, sendo que o processo poderá dar origem a uma renovação na liderança do partido. O nome que for escolhido terá um grande desafio pela frente: consolidar a presença e a relevância da Iniciativa Liberal numa conjuntura política instável e cada vez mais fragmentada.