No dia em que o Partido Socialista assinalou 52 anos de existência, o secretário-geral Pedro Nuno Santos lançou duras críticas a André Ventura, desafiando o líder do Chega a admitir, com “coragem e frontalidade”, se prefere os 48 anos de ditadura aos 51 anos de democracia em Portugal.
A declaração foi feita este sábado, durante a cerimónia de inauguração de uma estátua de Mário Soares, no jardim da sede nacional do PS, em Lisboa. A obra, da autoria do artista Leonel Moura, presta homenagem ao fundador do partido, que foi também primeiro-ministro e Presidente da República.
Diante de figuras históricas socialistas, como Manuel Alegre, Eduardo Ferro Rodrigues e Alberto Arons de Carvalho, Pedro Nuno Santos sublinhou a importância de lembrar o país herdado do Estado Novo, numa altura em que, segundo o dirigente socialista, se ouvem frequentemente críticas aos últimos 50 anos de democracia.
“O país de onde viemos era marcado por um analfabetismo elevado, baixos níveis de qualificação, uma taxa de mortalidade infantil ao nível do terceiro mundo e uma ausência total de serviços públicos essenciais, como o SNS”, recordou.
Numa referência direta à narrativa do Chega, o secretário-geral do PS respondeu à crítica recorrente de que os últimos 50 anos foram dominados pela corrupção, ideia visível inclusive na propaganda eleitoral do partido de André Ventura.
“Ouço muitas vezes o líder da extrema-direita criticar a democracia. O que lhe pergunto é: prefere os 50 anos anteriores? Então diga-o com clareza. Diga o que admira nesses anos. O que é que havia de bom nesse tempo?”, desafiou.
Pedro Nuno Santos sublinhou que, ao contrário do que alguns sugerem, o regime anterior não trouxe prosperidade, mas sim “pobreza, analfabetismo, repressão, tortura, assassinatos políticos” e ausência de liberdade. “Havia quem dissesse que nos salvou da guerra, mas o meu pai foi mandado para a Guiné com 20 anos. Nunca percebi essa lógica”, afirmou.
Como contraponto, destacou as conquistas desde o 25 de Abril: o acesso generalizado à educação, a criação do Serviço Nacional de Saúde, o aumento das qualificações da população e o desenvolvimento das infraestruturas. “Passámos de pais com a quarta classe para filhos licenciados”, afirmou, destacando o progresso alcançado em várias áreas, ainda que reconheça que persistem desafios, nomeadamente no setor da habitação.
“Não fizemos tudo. Na habitação, em particular, não alcançámos os mesmos avanços que noutras áreas. Mas lançámos, há cinco anos, o maior programa de construção pública de que há memória no país. Agora, é preciso intensificar o esforço”, defendeu, referindo a necessidade de o Estado recuperar imóveis devolutos.
Pedro Nuno Santos concluiu reafirmando a visão do PS para o futuro, destacando o potencial do país na transição energética e no setor digital. “Portugal tem um futuro extraordinário pela frente. E nenhum outro partido tem a experiência, os quadros e os valores do PS”, afirmou.