Vila Verde foi palco, no passado domingo, de uma reviravolta política que culminou com o fim do mandato de Fernando “Feitor” Silva, ex-vereador que se apresentava agora como cabeça de lista da coligação Amor a Vila Verde / CDS-PP.
Feitor, que já havia sido eleito vereador pelo Chega em 2021 e mais tarde desvinculado do partido, viu a sua candidatura ser rejeitada pelas urnas. Já vinha com desgaste político: em 2023 foi expulso do Chega, passando a atuar como vereador independente até à eleição de 2025.
Para estas autárquicas, tomou a dianteira de uma coligação com apoio do CDS-PP – movimento “Amor a Vila Verde” – na tentativa de renovar ou manter influência. Paulo Gomes – CDS/PP – surge como candidato à Assembleia Municipal.
Apesar da derrota de Feitor para a Câmara Municipal – que levou à perda de seu mandato – Paulo Gomes conseguiu garantir eleição para a Assembleia Municipal. Isso revela que, mesmo com um desfecho desfavorável para a liderança da coligação, Gomes teve êxito numa esfera política importante: a Assembleia Municipal tem competências de fiscalização, aprovação de planos municipais e acompanhamento do executivo, o que lhe confere voz institucional numa estrutura formal do município.
O VOX esteve à conversa com Paulo Gomes…
Parabéns pela eleição para a Assembleia Municipal. Foi o único eleito da candidatura de Fernando Silva (Feitor). Como descreve o resultado?
Obrigado. O resultado ficou aquém das expectativas, é verdade. O Fernando Feitor é uma pessoa com genuína vontade de servir Vila Verde, com capacidade de trabalho, mas acabou por ser mal assessorado. A campanha perdeu direção, e isso refletiu-se nas urnas. Faltou coerência, liderança e um plano estratégico sólido.
Pode concretizar que tipo de erros ocorreram durante a campanha?
Na minha opinião, Fernando Feitor foi induzido para uma campanha egocêntrica para uma lista política de um homem só e depois, faltou planeamento e unidade.
Mas quem teve mais responsabilidade?
Bom… Na minha opinião, e com o devido respeito, o diretor de campanha! Era quem tinha a responsabilidade, não conseguiu construir uma estrutura estável nem definir prioridades, talvez por ser de Braga, e, penso eu, nem sequer ser eleitor em Vila Verde terá tido uma visão enviesada, enfadonha e distorcida da realidade do nosso concelho. Existiam boas ideias, mas pouca organização. Em vez de uma mensagem coerente e bem sustentada, houve dispersão. Também senti que a comunicação foi reativa – íamos atrás dos acontecimentos em vez de os liderar. E numa autarquia como Vila Verde, onde as pessoas conhecem bem quem trabalha e quem apenas aparece, isso pesa.
Que balanço faz dos resultados eleitorais em Vila Verde?
O resultado foi claro e inequívoco: a Júlia Fernandes (PSD) venceu, e venceu de forma expressiva. Não foram os outros que perderam foi a Júlia Fernandes que ganhou. É justo reconhecer-lhe o mérito, assim como o contributo de todos os partidos e movimentos que participaram nestas eleições – todos ajudaram a enriquecer o debate democrático. Aproveito também para felicitar todos os eleitos, quer para a Câmara, quer para a Assembleia Municipal e para as Juntas de Freguesia. Vila Verde é um concelho relativamente pequeno, e aqui todos nos conhecemos. Tenho amigos em todos, mesmo todos, os quadrantes políticos com quem conversei de forma democrática e cordial ao longo dos dias de campanha. A diversidade de opiniões faz parte da vida política, e é saudável. Mas, apesar dessas conversas e amizades, nunca perdi o foco no projeto em que me envolvi e no qual dei a cara – tanto para a Assembleia como para a Câmara. O meu compromisso sempre foi com as pessoas e com o futuro do concelho.
“O tempo coloca cada rei no seu trono e cada palhaço no seu circo.”
Apesar dos resultados, sentiu algum reconhecimento pessoal após ser eleito?
Sim, senti, mas apenas de muitos eleitores e de alguns colegas da lista e foi uma das partes mais gratificantes. Depois da eleição, várias pessoas vieram felicitar-me e dizer-me que o Fernando fez o melhor que pôde, que tentou sinceramente mudar as coisas, mas que não foi bem acompanhado. E algumas dessas pessoas, em jeito de reação à minha eleição e em referência direta ao diretor de campanha, disseram uma frase que me ficou gravada: “O tempo coloca cada rei no seu trono e cada palhaço no seu circo.” Não sei se as pessoas o diziam com rancor mas eu não o digo com rancor – apenas como constatação do sentimento que se ouvia na rua. As pessoas perceberam quem trabalhou com seriedade e quem se moveu por vaidade. O Fernando não merece ser confundido com os erros de quem o rodeou.
Fernando Feitor ou o diretor de campanha deu-lhe os parabéns pela sua eleição na noite das eleições?
Vi algumas publicações no facebook a darem-me os parabéns.
E ele, Fernando Feitor, deu?
– não respondeu –
Como interpreta os resultados em ter tido mais votos que o candidato à Câmara?
De forma muito natural, aliás tive mais cerca de 200 votos dos que tive do CDS hà 4 anos, que significa que o CDS continua a apostar em mim e do Fernando Feitor vieram apenas alguns votos.
Acha que o problema foi de comunicação ou de estratégia política?
De ambos. A comunicação foi mal gerida – demasiadas improvisações e pouca preparação. As redes sociais foram usadas sem critério, e por vezes geraram polémicas evitáveis.
Em termos de estratégia, nunca se sentiu uma linha condutora. Um dia falávamos de saneamento, no outro de juventude, depois de cultura – mas sem ligar os temas numa visão global para o concelho. Isso transmitiu desorganização e, inevitavelmente, descredibilizou o projeto.
Que responsabilidades atribui ao diretor de campanha nesse desfecho?
Muitas. Um diretor de campanha deve unir, planear e proteger o candidato. Aqui, infelizmente, houve falhas em todos esses pontos. Tomaram-se decisões erradas, afastaram-se pessoas válidas e, em certos momentos, a campanha parecia servir mais interesses pessoais do que a candidatura em si. O Fernando Feitor merecia melhor orientação.
Apesar de tudo, foi eleito. Que papel pretende agora assumir na Assembleia Municipal?
Quero ser uma voz ativa, construtiva e exigente. A minha missão é representar quem acreditou em nós e, ao mesmo tempo, contribuir para que o concelho evolua.
A política não pode ser palco de vaidades – deve ser serviço público. Por isso, irei fiscalizar, propor e colaborar sempre que o interesse de Vila Verde estiver em causa.
Em retrospetiva, o que teria feito diferente se pudesse recomeçar a campanha?
Teria aconselhado uma direção de campanha mais competente e humilde. Teria apostado numa comunicação profissional, com uma linha clara e uma equipa unida. Teria sido importante, sobretudo, proteger o Fernando – porque ele tinha tudo para fazer melhor, tinha gente ao lado dele capaz, mas foi travado por quem o deveria ter ajudado.
E quanto ao futuro político de Fernando Feitor?
O meu eu sei! O dele, saberá ele melhor do que eu defini-lo. O Fernando é uma boa pessoa, e isso já é meio caminho andado na política. Se aprender com esta experiência e se rodear de pessoas certas, com capacidade técnica e política, pode perfeitamente regressar mais forte. Até pelo CHEGA, partido pelo qual foi eleito há 4 anos. Acredito que ainda pode dar muito a Vila Verde – mas precisa de repensar profundamente a forma como se deixa aconselhar e influenciar.
Está de costas voltadas com alguém?
Não estou de costas voltadas com ninguém. Tenho respeito por todos com quem trabalhei e mantenho a mesma postura de sempre: dizer o que penso, de forma frontal, transparente e direta, sem segundas intenções. A política, para mim, faz-se com clareza e com sentido de verdade – e é nesse espírito que continuarei a contribuir para o futuro de Vila Verde.
Que mensagem deixa aos vila-verdenses?
Desde logo e mais uma vez, por mim, um profundo agradecimento a todos os vila-verdenses, em particular, e perdoem-me, um agradecimento muito especial aos pradenses. A política local precisa de gente séria, que fale verdade e cumpra o que promete. A campanha acabou, mas o compromisso com Vila Verde continua. Da minha parte, estarei sempre do lado do trabalho e da transparência, assim farei na Assembleia Municipal na coligação que represento.