Pinto da Costa, o líder que marcou o FC Porto

Jorge Nuno de Lima Pinto da Costa, nascido a 28 de dezembro de 1937 no Porto, foi uma figura incontornável do desporto português, especialmente ligado ao Futebol Clube do Porto (FC Porto). Sócio do clube desde 1953, iniciou a sua trajetória diretiva em 1962 como chefe da secção de hóquei em patins, passando posteriormente pela secção de boxe em 1967. Em 1976, assumiu o cargo de diretor do departamento de futebol, marcando o início de uma era de sucesso para o clube.

A 23 de abril de 1982, Pinto da Costa foi eleito presidente do FC Porto, cargo que ocupou durante 42 anos, até maio de 2024, quando foi sucedido por André Villas-Boas. Sob a sua liderança, o FC Porto conquistou um total de 69 títulos, incluindo 23 campeonatos nacionais, 15 Taças de Portugal, 22 Supertaças Cândido de Oliveira, duas Ligas dos Campeões da UEFA (1987 e 2004), duas Taças Intercontinentais e uma Liga Europa.

Durante o seu mandato, Pinto da Costa foi conhecido por atrair jogadores e treinadores de renome, contribuindo para o crescimento e reconhecimento internacional do FC Porto. A sua gestão visionária transformou o clube numa potência do futebol europeu, estabelecendo relações estreitas com outros grandes clubes e dirigentes do futebol mundial.

Após uma longa batalha contra o cancro, Jorge Nuno Pinto da Costa faleceu a 15 de fevereiro de 2025, aos 87 anos. O seu legado perdura, sendo lembrado como o presidente mais titulado da história do futebol e uma figura central na afirmação do FC Porto no panorama desportivo global.
O velório é hoje à tarde (domingo), a partir das 18h00, na Igreja das Antas, no FC Porto, com o funeral agendado para amanhã, segunda-feira.

As declarações polémicas

Jorge Nuno Pinto da Costa, ao longo da sua extensa carreira como presidente do FC Porto, esteve envolvido em diversas controvérsias devido a declarações públicas que geraram debates acalorados. Abaixo, destacam-se algumas das mais polémicas:

Críticas à Arbitragem na Segunda Liga (2021): Em março de 2021, após um empate entre o FC Porto B e o Desportivo de Chaves, Pinto da Costa sugeriu a existência de “vários complôs” para que o FC Porto B descesse de divisão, insinuando que a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e a Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF) estavam envolvidas. Estas declarações resultaram numa suspensão de 35 dias e numa multa de 5.610 euros impostas pelo Conselho de Disciplina da FPF.

Acusações de Manipulação Mediática (2023): Em agosto de 2023, através de um editorial na Revista Dragões, Pinto da Costa acusou a comunicação social de Lisboa de mentir e manipular informações sobre o desempenho do FC Porto, alegando que a imprensa distorcia a realidade para prejudicar a imagem do clube.

Comentários sobre Processos Judiciais do Benfica (2024): Em outubro de 2024, numa entrevista, Pinto da Costa sugeriu que as acusações judiciais contra o Benfica não resultariam em punições significativas, afirmando que tais processos eram “coisas que não vão dar nada”. Estas declarações foram vistas como uma crítica à eficácia do sistema judicial desportivo em Portugal.

Polémica com a Casa do FC Porto de Espinho (2024): No seu livro “Azul até ao Fim”, publicado em 2024, Pinto da Costa acusou a Casa do FC Porto de Espinho de traição por alegadamente apoiar André Villas-Boas nas eleições do clube. Em resposta, a instituição repudiou as afirmações, classificando-as como “ignóbeis falsidades”.

Estas situações ilustram momentos em que as declarações de Pinto da Costa suscitaram controvérsia e debates intensos no panorama desportivo português.

Os “seus” treinadores de sucesso

Ao longo dos seus 42 anos como presidente do FC Porto, Jorge Nuno Pinto da Costa contratou e trabalhou com vários treinadores que marcaram a história do clube. O seu impacto no sucesso destes treinadores foi enorme, garantindo estabilidade, visão estratégica e um modelo de gestão que permitiu ao clube competir ao mais alto nível. Aqui estão alguns dos treinadores mais icónicos do seu legado:

José Maria Pedroto (1976-1980, 1982-1984)

  • Primeiro grande treinador na era Pinto da Costa, sendo essencial na afirmação do FC Porto como uma potência nacional.
  • Conquistou o bicampeonato (1977-78 e 1978-79), quebrando um jejum de 19 anos sem títulos nacionais.
  • Pinto da Costa, na altura diretor do futebol, foi um dos seus maiores defensores, e ambos trabalharam para modernizar o clube e lutar contra o poder de Lisboa no futebol português.

Artur Jorge (1984-1987, 1989-1991)

  • Conquistou a primeira Taça dos Campeões Europeus (1986-87), derrotando o Bayern de Munique na final de Viena.
  • Foi bicampeão nacional e consolidou o FC Porto como o principal clube português da década de 80.
  • Pinto da Costa garantiu a estabilidade necessária para que Artur Jorge implementasse a sua filosofia ofensiva e vencesse a maior competição de clubes da Europa.

Tomislav Ivic (1987-1988)

  • Conquistou a Supertaça Europeia e a Taça Intercontinental em 1987.
  • Pinto da Costa viu nele um técnico tático e metódico para continuar o sucesso europeu do FC Porto.
  • Criou uma equipa sólida e compacta que se impôs contra o Ajax e o Peñarol.

Bobby Robson (1994-1996)

  • Conquistou dois campeonatos nacionais, duas Taças de Portugal e uma Supertaça.
  • Pinto da Costa viu o potencial do técnico inglês e deu-lhe tempo para trabalhar, apesar de um início difícil.
  • Trouxe consigo José Mourinho como adjunto, que mais tarde se tornaria um dos maiores treinadores da história.

António Oliveira (1996-1998)

  • Bicampeão nacional e responsável por consolidar o domínio portista nos anos 90.
  • Pinto da Costa confiou na sua liderança para manter a hegemonia do clube no futebol português.

José Mourinho (2002-2004)

  • Conquistou uma Liga dos Campeões (2003-04), uma Taça UEFA (2002-03), dois campeonatos, uma Taça de Portugal e uma Supertaça.
  • Pinto da Costa apostou nele quando ainda era pouco reconhecido, dando-lhe total autonomia para construir uma equipa vencedora.
  • Juntos, transformaram o FC Porto numa potência europeia, vencendo a Champions contra o Mónaco.

Jesualdo Ferreira (2006-2010)

  • Conquistou um tricampeonato, consolidando o domínio nacional.
  • Pinto da Costa deu-lhe a estrutura para desenvolver talentos como Hulk e Falcao.

André Villas-Boas (2010-2011)

  • Conquistou a Liga Europa, o campeonato, a Taça de Portugal e a Supertaça em 2010-11.
  • Pinto da Costa apostou num jovem treinador e deu-lhe um plantel de qualidade, permitindo um futebol ofensivo e espetacular.

Vítor Pereira (2011-2013)

  • Bicampeão nacional, garantindo a continuidade do sucesso após Villas-Boas.
  • Pinto da Costa manteve a estabilidade da equipa e segurou jogadores-chave.

Sérgio Conceição (2017-2024)

  • Conquistou três campeonatos, três Taças de Portugal, três Supertaças e uma Taça da Liga.
  • Pinto da Costa confiou nele para recuperar o clube após um período sem títulos.
  • Transformou o FC Porto numa equipa aguerrida e competitiva, conseguindo bons desempenhos na Champions.

O Impacto de Pinto da Costa

  • Visão estratégica: Escolheu treinadores certos para cada momento, apostando tanto em veteranos experientes como em jovens promissores.
  • Gestão de balneário: Criou condições para que os treinadores tivessem autoridade total, mantendo os jogadores focados.
  • Capacidade de reconstrução: Quando um técnico saía, tinha sempre um plano para o substituir sem quebrar a estabilidade da equipa.
  • Mentalidade vencedora: Sempre exigiu títulos e manteve uma cultura de exigência que impulsionou os treinadores a dar o máximo.

Sem Pinto da Costa, o FC Porto não teria conquistado tantos títulos e não teria criado um modelo de sucesso sustentado ao longo de quatro décadas.