Uma das mais conhecidas tarefas para o Dia do Pai é a criação de um postal, com a ajuda de um professor do primeiro ciclo. Os miúdos ficam excitadíssimos e orgulhosos por entregar o postal aos pais. Por outro lado, o Pai fica contente com o gesto, pelo postal, mas ainda mais com o entusiasmo do filho.
E, assim, se vai construindo e alimentando uma relação de cumplicidade e partilha. Ou então, a ligação afetiva pode começar a definhar e, com o tempo e com o passar dos anos, deixa de haver uma relação pai-filho para dar lugar a uma relação familiar menos próxima.
Esta crónica não tem aspiração a algum tipo de guia ou fazer qualquer juízo de valor.
É dirigida em especial àqueles que têm uma boa relação com o seu pai.
Os destinatários desta crónica não são, naturalmente, os miúdos da escola primária, mas sim aqueles já bem mais crescidos. Aqueles que vão substituindo os postais por outras coisas parecidas. O que muda é o entusiasmo. Nem os filhos se entusiasmam nem os pais.
Quando chegamos à idade adulta, o postal que devemos dar ao nosso pai não está à venda em nenhuma loja, nem o podemos pedir a um qualquer site de vendas na internet.
Os que os nossos pais precisam é que lhes dediquemos algum tempo. Não precisa de ser no dia de hoje. Pode ser noutro dia.
Precisamos nesse dia de levar dois ouvidos. Precisamos de escutar. Precisamos de lhes dar a oportunidade de serem escutados de forma ativa.
Pode ser sobre o dia a dia ou pode sobre algum tema que os entusiasme.
Isto porque os papéis alteram-se e aquela pessoa que nos ouve também precisa de ser ouvida: sobre as coisas corriqueiras do quotidiano ou sobre os tempos passados. Pode ser das memórias da tropa, da forma como começou a trabalhar, ou sobre como teve de fugir da guerra ou do país para trabalhar no estrangeiro.
Todos temos histórias de momentos marcantes…
O melhor presente ou postal que podemos dar ao nosso Pai é o nosso tempo. Não precisa de ser muito tempo, nem todos os dias.
É fácil? Pode não ser. Há sempre muito que fazer. Há sempre mais uma temporada de séries atrasada para ver. Existem montes de vídeos de cães e gatos para ver na internet.
Mas irá valer a pena. Não há dinheiro que pague o tempo de qualidade que despendemos no reforço da relação que temos com o nosso Pai.