Ouvimos o Almirante Gouveia de Melo dizer que não é político. No entanto, é uma pessoa que sabemos que se vai candidatar ao cargo político mais importante do país: Presidente da República.
Um candidato a Presidente da República dizer que não é político passa ser o seu primeiro ato político e faz parte da sua estratégia política de campanha. “Não sou político” é, só por si, uma frase politicamente correta.
Todas a atitudes que tomar durante a campanha e tudo o que disser ou não disser, terá naturalmente uma leitura política.
Quem não quer ser político terá, obviamente, de não ter opinião sobre nada, não ser crítico sobre nenhum assunto da atualidade e não se deixar influenciar por nada que o ambiente que o rodeia lhe mostra. Em resumo, a melhor forma de não ser político é mesmo a de não existir. E mesmo assim…
São muitos os exemplos de pessoas que usaram essa estratégia política de dizer que não são políticos. Pelo menos, no início da carreira política. Assim de repente, temos nomes como Marinho Pinto e até, mais recentemente, André Ventura, que faz parte de um sistema político que diz não concordar. Até para mudar o sistema democrático há que fazer parte dele.
Nas nossas vidas todos somos políticos. Se colocamos a bandeira da Ucrânia como foto de capa; se fazemos um qualquer comentário sobre a política geoestratégica, sobre a guerra, etc. Um simples gosto, um scroll ou até a paragem numa imagem nas redes socias é entendida pelo algoritmo como um ato político.
Há outros atos políticos relacionados com o consumo: se compramos o “que é nosso” é política; se deixamos de comprar Tesla é política; se preferimos comprar ou deixar de comprar produtos de um ou outro país é política.
Nas eleições temos também a oportunidade de sermos políticos. Basta termos mais de 18 anos. Se votarmos em qualquer partido estamos a fazer política; se votarmos em branco iremos fazer política; se optamos por votar nulo fazemos política e se por outro lado ficarmos em casa fazemos parte de um dos maiores partidos políticos ao qual chamamos abstenção. Isto porque qualquer uma das nossas opções terá uma leitura política. A abstenção poderá ser a mais perversa, pois a vontade de não votar poderá ser considerada como a aceitação do regresso de um sistema ditatorial.
Muito há a dizer sobre política. Este texto focou-se sobretudo na política partidária. A política não partidária representa uma faixa da política igualmente importante e igualmente expressiva.
Mas fica para outra crónica.