A política local não vive apenas de promessas, obras feitas ou adiadas, inaugurações festivas ou arruadas animadas. Vive, sobretudo, da clareza, da verdade e do respeito pela inteligência dos cidadãos. E é justamente por isso que importa corrigir a atual Presidente da Câmara de Vila Verde e candidata do PSD às próximas eleições autárquicas de 12 de outubro, Júlia Fernandes, quando no programa das suas sessões de esclarecimento se refere, entre outras povoações, a Atães, Codeceda, Covas e Valões como “freguesias”.
Não, Senhora Candidata. Atães, Codeceda, Covas e Valões não são freguesias. São localidades ou povoações pertencentes à União de Freguesias do Vade. Foram freguesias até 2013, antes do processo de reorganização administrativa que extinguiu e agregou várias freguesias em todo o país. Desde então, deixaram de o ser. E insistir em tratá-las como tal é, além de um erro factual, um contributo direto para a iliteracia dos vilaverdenses.
É compreensível que muitos cidadãos continuem, por hábito ou afetividade, a designar as suas terras de “freguesias”. A memória cultural e o sentimento de pertença não se apagam com decretos. Mas uma candidata à Câmara Municipal, que já exerce funções de presidente, não se pode dar ao luxo de perpetuar equívocos. O mínimo que se exige é rigor, clareza e respeito pela verdade administrativa.
Ao chamar “freguesias” a estas povoações, a candidata do PSD está a atirar areia para os olhos dos vilaverdenses. Não é apenas uma questão semântica. É uma forma de manipulação subtil, que joga com a nostalgia popular para colher dividendos políticos, ao invés de promover a literacia cívica e administrativa que o concelho tanto necessita.
Num tempo em que se exige transparência e honestidade, a linguagem usada por quem lidera não pode ser descuidada. As palavras têm peso. As palavras moldam perceções. E quando as palavras deturpam a realidade, ainda que de forma aparentemente inofensiva, tornam-se armas de desinformação.
A Senhora Candidata deveria ser a primeira a respeitar a verdade crua e dura: Atães, Codeceda, Covas e Valões são hoje localidades ou povoações da União de Freguesias do Vade. Nada mais, nada menos.
Se Vila Verde precisa de algo, é de líderes que falem claro e que não escondam factos com fórmulas de conveniência. Porque governar não é agradar aos ouvidos dos eleitores, é assumir a responsabilidade de lhes dizer sempre a verdade.