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Opinião. Quando o “chefe” manda calar: perfis falsos nas autárquicas de Vila Verde e Braga

Nos últimos meses, quem acompanha a política local em Vila Verde e Braga não pôde deixar de reparar num detalhe estranho: perfis novos, criados de um dia para o outro, a comentar em massa qualquer publicação sobre as autárquicas. A prática foi exposta pelo Semanário Vox e, sinceramente, não surpreende. Estas “contas fantasma” e bots não servem para informar, nem para discutir ideias. Servem para moldar a perceção pública, fazer barulho e, quando possível, atacar adversários.

O episódio ganhou outra dimensão quando dois deputados — Filipe Melo, do Chega, e Rui Rocha, da Iniciativa Liberal — denunciaram publicamente o esquema. Pouco depois, quase por magia, a enxurrada de comentários desapareceu.

Filipe Melo foi ainda mais longe e acusou diretamente duas pessoas ligadas ao PSD, Carlos Tiago Alves e Jorge Oliveira, de estarem por detrás dos perfis falsos que atacaram o Chega.

A pressão não se ficou por aí. Álvaro Rocha e Ellisabete Rodrigues avançaram mesmo com uma queixa-crime, colocando a questão na esfera judicial. Esse passo acrescenta peso às denúncias e obriga as autoridades a investigar de forma séria quem está por detrás destas manobras.

É difícil não suspeitar que alguém lá em cima, talvez o “chefe”, tenha dado ordem para travar a operação. A coincidência é demasiado conveniente para ser apenas isso.

Não estou a falar de discussões acesas de café ou de um ou outro apoiante mais entusiasta. Trata-se de manipulação deliberada do espaço público. Num concelho como Vila Verde, onde a política costuma desenrolar-se entre caras conhecidas, esta estratégia soa a importação barata de táticas de grandes máquinas partidárias. Em Braga, o efeito é mais difuso, mas igualmente corrosivo: transforma as redes sociais em arenas artificiais onde as vozes genuínas são abafadas por algoritmos e contas programadas.

Esta realidade levanta questões sérias sobre ética política e transparência. Quem recorre a bots mostra medo de enfrentar o eleitorado de frente. E quem cala estas manobras quando elas vêm à tona torna-se cúmplice. É preciso que os partidos — todos, sem exceção — assumam compromissos claros para pôr fim a este jogo sujo. Caso contrário, arriscam-se a perder o pouco de confiança que ainda resta entre eleitores e eleitos.

O silêncio súbito após as denúncias confirma que havia controlo central e intenção. O debate democrático merece melhor do que operações fantasma. Em Vila Verde e Braga, como em qualquer outro canto do país, a política devia ser feita de cara descoberta, com ideias discutidas às claras e não com exércitos digitais a disparar comentários fabricados. O eleitor pode ser crítico, mas não é tolo — e percebe bem quando está a ser manipulado.

Paulo Moreira Mesquita

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