Opinião

Opinião. O truque eleitoral da “Julinha das Festas”

No passado dia 21 de julho, em reunião de Câmara de Vila Verde, o vereador Fernando Silva — conhecido por Feitor — fez um reparo que merece reflexão. Disse o vereador que, estando o concelho em ano de eleições, “de repente, como por magia, multiplicam-se as inaugurações, os anúncios, as promessas”. Sublinhou ainda que “obras que estiveram paradas ou esquecidas durante o mandato ganham agora velocidade”, e que “não é com pressa de fim de mandato que se apagam anos de silêncio e falta de resposta”.

Palavras fortes, sim, mas que tocam num ponto sensível da política local (e nacional): a tentação de alinhar o ritmo da governação pelo calendário eleitoral. É um padrão conhecido — não apenas em Vila Verde, mas em múltiplos concelhos — onde a fita, a placa e o discurso parecem valer mais nos últimos meses do mandato do que no trabalho consistente ao longo dos anos.

A presidente da Câmara, Júlia Fernandes (PSD), respondeu dizendo que Fernando Silva sempre acompanhou e votou favoravelmente estas obras, não podendo agora falar de “anos de silêncio”. Defendeu ainda que as inaugurações se têm feito “ao longo de todos estes anos”. Diz ainda que “o que podemos concluir é que houve distração ao longo do mandato e que agora se reage mais ao que aparece num ‘pseudo’ órgão que, de informático, pouco ou nada tem.”

Até aqui, um debate político legítimo. Mas o tom agrava-se quando a autarca decide desvalorizar as críticas referindo-se a um “pseudo órgão que, de informático, pouco ou nada tem” — alusão clara ao Semanário VOX. Ora, convém esclarecer: o nosso jornal é informativo, não “informático”. Uma confusão de termos que, vinda de quem foi vereadora da Educação, surpreende.

Mais grave do que o lapso semântico é o alvo escolhido: a comunicação social local. Atacar o mensageiro é sempre um mau sinal para a saúde democrática. Um jornal não existe para aplaudir o poder, mas para o escrutinar. É esse o papel que assumimos — denunciar os problemas persistentes do concelho, da recolha de lixo à falta de água no verão, passando por contratações públicas que levantam sérias dúvidas de transparência.

A crítica do vereador Fernando Silva aponta para o risco da política-espetáculo. A resposta da presidente revela desconforto com quem ousa expor o que não corre bem. Ambos os factos revelam a mesma realidade: Vila Verde precisa de menos encenação e mais seriedade na gestão pública.

O eleitorado saberá avaliar se a pressa das fitas compensa os anos de silêncio. Até lá, cabe à imprensa manter-se firme: informativa, não informática — e sobretudo livre.

Post scriptum: a verdade é que a questão que Feitor levanta pode ter duas interpretações. Ou está mesmo a fazer oposição ou foi apenas uma questão encomendada para dar a Júlia Fernandes oportunidade de justificar tantas inaugurações na reta final do mandato e às portas de umas Eleições Autárquicas, num ano em que finalmente terá concorrente à altura: Filipe Melo do Chega (ou o Chega de Filipe Melo). Deu ainda oportunidade da social-democrata revelar que ela e a sua equipa estão atentas ao que por aqui escrevemos. Nada de novo… mas agora é público.

Paulo Moreira Mesquita

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