A sucessão de nomes que o Partido Socialista tem vindo a lançar para uma eventual candidatura à Presidência da República revela mais do que ambição: expõe, de forma clara, um partido fragmentado, desorientado e incapaz de tirar lições da pesada derrota sofrida nas últimas eleições legislativas. António José Seguro, António Vitorino e agora Augusto Santos Silva surgem como putativos candidatos, cada um orbitando em torno da sua própria rede de influência, das suas lealdades passadas e do seu próprio entendimento do que é ser “socialista” em Portugal.

Não está em causa a competência individual destas figuras, todas com carreiras políticas respeitáveis e serviço público relevante. O problema é outro: a ausência de um rumo comum, de uma liderança agregadora, de um projeto coerente. Em vez de apresentar uma visão sólida para o país ou de fazer um exercício de introspeção profunda sobre os erros que conduziram à derrota eleitoral, o Partido Socialista parece concentrado em gerir vaidades internas e em acalmar egos feridos.

A sucessão de nomes não é estratégia – é sintoma. Sintoma de um partido que perdeu o fio condutor, que não sabe o que representa no presente e, por isso, também não sabe como projetar-se no futuro. Enquanto os seus principais quadros disputam a ribalta mediática para se posicionarem como salvadores da pátria socialista, o eleitorado assiste a esta fragmentação com crescente indiferença ou desilusão.

Se o partido tivesse aprendido algo com a sua derrota, estaria neste momento focado em reconstruir pontes com os seus eleitores, em renovar a sua mensagem e em encontrar uma nova geração de líderes capazes de unir em vez de dividir. Mas não: em vez de fazer política com P maiúsculo, o Partido Socialista continua preso a lógicas internas, a jogos palacianos, a exercícios de projeção pessoal que não interessam ao país e só contribuem para o descrédito da política.

A multiplicação de candidaturas potencia o risco de um partido que se torna irrelevante nas decisões estruturais. Afinal, como pode um partido aspirar a governar um país se não consegue sequer organizar uma estratégia concertada para uma eleição presidencial? A esquerda portuguesa, já penalizada pela fragmentação e pelo sectarismo, não precisa de mais divisionismo. Precisa de clareza, de rumo, de liderança.

O Partido Socialista tem uma história longa e um papel fundamental na democracia portuguesa. Mas, neste momento, parece mais empenhado em cavar trincheiras internas do que em construir soluções externas. E isso, mais do que uma crise de nomes, é uma crise de identidade. A pergunta que fica é: quantas derrotas mais serão necessárias para o PS finalmente aprender?