Como era altamente expectável, o Partido Socialista viu-se hoje [ontem] ultrapassado pelo CHEGA, tornando-se apenas a terceira força política no Parlamento. É um momento histórico. Pela primeira vez em cinco décadas de democracia, o PS deixa de figurar entre os dois partidos com maior representação parlamentar.

E agora, Partido Socialista?

Vivemos num mundo marcado pela volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade — o chamado mundo VUCA. Neste novo ecossistema social e político, os modelos tradicionais de fazer política tornaram-se desajustados. A ideologia, outrora o alicerce das escolhas eleitorais, cede espaço à urgência da resolução de problemas concretos, imediatos e visíveis.

Durante décadas, os partidos funcionaram como alfaiates da ideologia: apresentavam uma narrativa fechada, com programas consistentes e estruturados, que os eleitores vestiam como fatos de pronto-a-vestir. Hoje, os cidadãos procuram soluções à medida, flexíveis, adaptadas à sua realidade do dia a dia. O que querem são respostas — não doutrinas.

É neste novo paradigma que partidos como o CHEGA florescem. Não oferecem propriamente uma ideologia coerente, mas sim promessas de resolução imediata para problemas reais ou percecionados como tal. Falam uma linguagem simples, emocional, direta, com enorme eficácia nas redes sociais, enquanto os partidos tradicionais, como o PS, continuam a operar com os códigos do século XX: discursos longos, estruturados, transmitidos por canais convencionais, e muitas vezes alheios à pulsação social imediata.

O PS, ancorado numa estrutura pesada e num discurso excessivamente institucional, perdeu a capacidade de mobilizar. Perdeu o terreno das redes, da proximidade, da emoção — e, com isso, perdeu votos.

É claro que os “likes” não governam, como sublinhou Paulo Portas. Mas os “likes” são hoje sinais claros de adesão, de mobilização e, muitas vezes, de voto. A comunicação política mudou radicalmente, e quem não se adapta, fica para trás.

A realidade é crua: se o Partido Socialista não fizer uma revolução interna — nas ideias, nos rostos, nos canais de comunicação e nas formas de escuta ativa da população — arrisca-se a cair ainda mais no esquecimento. Precisa de reaprender a ouvir, a comunicar, a interagir. Precisa de se reencontrar com os eleitores que perdeu e com os que nunca teve. Sobretudo, precisa de perceber que o futuro não se conquista com glórias passadas.

O tempo da complacência acabou. O país mudou. Os cidadãos mudaram. A política mudou. E agora, Partido Socialista?