Na política, o “estado de graça” refere-se ao espaço temporal de um governo recém-eleito, em que existe uma atmosfera de otimismo e boa vontade por parte da população e dos meios de comunicação. Este período caracteriza-se por uma maior aceitação e apoio às ações do governo, permitindo-lhe implementar as suas políticas com menos resistência e maior tolerância.

Mas, como diz a sabedoria popular, “tudo o que é bom acaba depressa”, e este estado pode ser rapidamente substituído por críticas e descontentamento, se as expectativas não forem atendidas. Começa a ser notório o fim do “estado de graça” deste governo.

Logo a seguir às eleições, Montenegro entrou a matar e quem não estivesse atento pensaria uma de duas coisas: que Luís Montenegro não se tinha apercebido que já era primeiro-ministro e a campanha eleitoral tinha acabado, ou que não tinha notado que a vitória havia sido por uma margem mínima e o seu governo estaria numa situação frágil.

Obviamente, Luís Montenegro estava ciente que não teria condições de governar. Decidiu, então, iniciar uma aventura, seguindo os conselhos do seu “padrinho” Cavaco Silva. O plano era lançar o isco à oposição e provocar uma moção de censura. O Presidente dissolveria o parlamento e entraria, novamente, em campanha, desta vez como vítima. O plano havia resultado nos anos 80 e levado o também frágil governo de Cavaco Silva a uma tão apetecível maioria absoluta.

De provocação em provocação foi feita a governação. Nenhum dos partidos da oposição mordia o isco e de forma sofrida chegamos até aqui.

Para desviar os holofotes de si, o Chega acabou por ceder, fazer a vontade a Montenegro e apresentar uma moção de censura, com o chumbo de todos. O PCP também deu o ar da sua graça com o mesmo resultado.

No recente discurso ao país, Luís Montenegro aproveitou para iniciar a sua campanha eleitoral a novas e hipotéticas eleições.

O plano falhou a todos os níveis. Depois de uma remodelação de governo não explicada, a confiança do próprio primeiro-ministro está ferida de morte. Montenegro e a sua família viram-se, de repente, envolvidos num escândalo que não é um casinho nem caso. É um verdadeiro “casão”, ou “casas e casinhas”, como se vai dizendo. Revelou-se um mau aluno de Cavaco Silva.

Acredito que, neste momento, se o Partido Socialista apresentasse uma moção de censura, o próprio PSD votaria favoravelmente.

Uma vez que o primeiro-ministro não apresenta demissão, resta saber quanto tempo o PSD e a oposição vão querer deixar Luís Montenegro cozer em lume brando.