Quando “terminou” o projeto Semanário V em 2022 – em que eu era diretor desde a sua fundação – jamais pensaria voltar a abraçar nova luta pelo jornalismo independente. O que fizemos na altura foi algo arrebatador que abalou com Braga e Vila Verde numa dimensão que dificilmente alguém julgaria ser possível.
Denunciamos inúmeros casos de corrupção – na política e corporativa. Fui (fomos) perseguido por isso, ao estar constantemente na barra do tribunal a responder por aquilo que escrevi. Ganhei todos os processos, pois a verdade – essa que “eles” tentam abafar – ainda prevalece na casa onde começa a democracia.
Os imponentes e inimputáveis figurantes da sociedade vila-verdense que me tentaram intimidar que me recordo assim de cabeça, foram: Júlia Fernandes (na altura vereadora, agora presidente da Câmara Municipal de Vila Verde, casada com o ministro José Manuel Fernandes), António Vilela (na altura era presidente da Câmara Municipal de Vila Verde, agora é apenas um condenado por corrupção), João Luís Nogueira (diretor da Escola Profissional Amar Terra Verde, que continua na escola mesmo após ter sido condenado por corrupção por ter montado o plano – em conluio com António Vilela e Rui Silva – para ganhar o concurso que lhe entregava a mesma escola de mão beijada) e José Santos (presidente do Crédito Agrícola de Vila Verde). Além destes, também o Ministério Público me estava a acusar do crime de violação do segredo de justiça, relativamente ao caso de Tancos. Perderem todos os processos que intentaram contra mim, logo na fase de instrução.
E os “Apanhados na Teia”, alguém se lembra? Como denunciamos a maior teia de corrupção na contratação pública que Vila Verde conheceu, mas, contudo, ainda não há sequer arguidos. Disto não escreverei aqui, pois estamos a preparar algo sobre este tema. Estejam atentos!
Certo é que vivemos uma época em que a informação circula a uma velocidade nunca antes vista. Redes sociais, sites de notícias e plataformas digitais bombardeiam-nos diariamente com manchetes, análises e opiniões. No entanto, no meio dessa enxurrada de dados, cresce a necessidade de um jornalismo verdadeiramente independente, livre de pressões políticas e económicas, capaz de cumprir sua missão maior: informar com verdade, isenção e compromisso com o interesse público.
O jornalismo independente não é apenas uma virtude; é a espinha dorsal de uma sociedade democrática. Quando os jornalistas são pressionados por partidos políticos, empresas ou anunciantes, o que deveria ser uma procura pela verdade transforma-se num instrumento de manipulação. Isso fragiliza a confiança do público e coloca em risco o direito dos cidadãos à informação imparcial.
Um jornal que se deixa guiar pelos interesses económicos, por exemplo, corre o risco de silenciar pautas que podem desagradar os grandes anunciantes. Da mesma forma, a ingerência política pode transformar meios de comunicação em meras extensões de propaganda governamental ou de oposição, comprometendo a pluralidade de vozes e o debate público. Nesse contexto, a independência editorial é um ato de resistência e, muitas vezes, um sacrifício.
Manter-se independente, no entanto, exige coragem e, sobretudo, sustentabilidade. A verdade é que a independência tem um custo. Sem o apoio de grandes patrocinadores ou o conforto de financiamentos públicos, muitos veículos de comunicação enfrentam desafios quase intransponíveis para continuar a operar. É por isso que os leitores e cidadãos têm um papel fundamental nesse processo: apoiar o jornalismo que procura a verdade, mesmo quando essa verdade é desconfortável.
Um exemplo prático disso é o crescimento de modelos de financiamento direto, como assinaturas e doações. Esses formatos, além de garantirem a sobrevivência dos meios de comunicação, criam uma relação de compromisso direto entre o jornalista e o leitor, deixando claro que a única lealdade do veículo deve ser para com o público.
O jornalismo independente não é perfeito – e nunca será. Ele também comete erros, mas o que o diferencia é a disposição para corrigi-los, para prestar contas e para procurar incessantemente a verdade. É um antídoto contra as fake news, as meias-verdades e os interesses obscuros que tentam moldar a realidade a seu favor.
Por isso, o futuro da informação não deve ser monopolizado por gigantes tecnológicos, nem capturado por interesses políticos ou económicos. O jornalismo independente é, mais do que nunca, uma trincheira de liberdade. Proteger essa trincheira é garantir que continuemos a ter uma sociedade informada, crítica e capaz de decidir seu próprio destino.
A liberdade de imprensa, como qualquer outra liberdade, não pode ser encarada como um dado adquirido. Precisa ser defendida diariamente – pelos jornalistas que têm o compromisso com a verdade e pelos cidadãos que reconhecem o valor de uma imprensa livre. Afinal, sem jornalismo independente, a democracia fragiliza-se. E sem democracia, não há futuro.