Havia um certo carteiro, numa certa aldeia que, pela condição da sua profissão, era conhecido por todos os habitantes da terra. Sabia o nome de todos os moradores e fazia o seu trabalho de forma exemplar. Era educado, conversador e mantinha uma relação de amizade com todos os conterrâneos.
Mas este carteiro tinha um grande defeito. No final da tarde, parava no café e vangloriava-se. Dizia que já tinha tido contacto com a maioria das mulheres da aldeia. Acrescentava, ainda, que todos deveriam ter cuidado pois o carteiro vai a todas as casas e pode, naturalmente, prestar outros serviços. Apesar de não dizer nomes, o mal-estar ia, cada vez mais, sendo instalado. A desconfiança entre os habitantes era crescente.
Só que o que o carteiro não se dava conta é que também ele saía de casa e passava todo o dia fora. E, por consequência, não sabia o que se passaria na casa dele. Não sabia se era ou não traído pela sua mulher.
Esta parábola tem o fim que o leitor lhe quiser dar.
Esta crónica não é sobre carteiros, nem aldeias, nem tampouco sobre a mulher do carteiro.
É sobre a vida.
Temos alguns ditados populares que alertam sobre isto de nos vangloriarmos:
“Não te rias do vizinho que o mal vem pelo caminho”, “Quem tem telhados de vidro não atira pedras ao do vizinho”, “Quem com ferros mata, com ferros morre”, “Quem cospe para o ar…”, etc.
Enfim. Uma panóplia de avisos que a sabedoria popular nos mostra. Apela, sobretudo, para as consequências dos nossos atos. No entanto, não deveríamos ficar preocupados com a consequência, mas sim em ter uma postura que evite, ao máximo, este tipo de comportamentos.
Todos temos aquele amigo que nos diz: “Não sei como o fulano rouba e não tem medo de ser apanhado”. Esse nosso amigo, provavelmente, também será um ladrão em potência. Por enquanto, é apenas um ladrão covarde. Quando ele deixar de ter medo, irá naturalmente roubar e até, talvez, comece pelos amigos.
Os nossos atos devem estar de acordo com os nossos valores e não com as suas possíveis consequências.
Como carteiros, que todos somos, devemos ocupar os nossos dias a entregar mensagens verdadeiras e prestar serviços que sejam úteis à humanidade.