José Luís Carneiro está determinado em liderar o Partido Socialista e, para isso, tem acelerado contactos e assumido a dianteira na corrida à sucessão de Pedro Nuno Santos, depois do duro revés eleitoral de domingo. No entanto, dentro do partido, há quem defenda mais tempo e uma solução mais agregadora, temendo uma candidatura que divida em vez de unir.

A poucos dias da reunião da Comissão Nacional, marcada para sábado, cresce o movimento interno à procura de uma candidatura alternativa que consiga gerar consenso e evitar uma divisão profunda no PS. Embora Carneiro esteja já no terreno e se mostre empenhado em ser o único nome em cima da mesa, há vozes influentes a tentar travar esse ímpeto.

Duarte Cordeiro é um dos rostos visíveis desta frente, apelando a uma “solução de unidade”. O ex-ministro das Infraestruturas, apontado por muitos como o nome ideal para unir o partido, afastou-se publicamente da corrida, precisamente no momento em que Carneiro assumia a sua disponibilidade. Ainda assim, o espaço para alternativas continua em aberto.

Entre os nomes que não se excluíram estão Mariana Vieira da Silva e Fernando Medina. A ministra disse esta terça-feira à noite estar disponível para ajudar o PS a reconquistar a confiança dos portugueses, sublinhando a importância de ouvir todas as tendências internas e encontrar um caminho de convergência. Sem se comprometer diretamente, mantém-se em cena, ao contrário de outras figuras que já se afastaram.

A pressão dentro do partido é crescente. As movimentações nos bastidores multiplicam-se e, apesar da rapidez com que Carneiro avançou, muitos socialistas mostram desconforto com a velocidade do processo. “É legítimo que se apresente, mas pareceu tudo demasiado apressado”, admite um dirigente em declarações ao Observador. Outro acrescenta: “O PS precisa de tempo para respirar”.

Apesar disso, os contactos de Carneiro estão bem avançados. “O José Luís já me ligou” tem sido uma frase recorrente entre os quadros socialistas, o que mostra um esforço de ocupação de espaço. Entre os seus apoiantes, há confiança: consideram que o antigo ministro da Administração Interna tem hoje mais força do que em 2023 e que a sua antecipação joga a seu favor.

Pedro Nuno sai… o tabuleiro político muda

Contudo, o apoio que teve nas últimas diretas poderá não ser o mesmo agora. Parte do pedronunismo poderá não o seguir desta vez e há dúvidas sobre o alinhamento da ala ligada a António Costa. Recorde-se que foi precisamente a oposição a Pedro Nuno Santos que trouxe a Carneiro apoios importantes há um ano, como Fernando Medina, Augusto Santos Silva e Vieira da Silva. Agora, com o líder de saída, o tabuleiro político muda.

Nos bastidores, há quem acredite que as estruturas próximas de Pedro Nuno acabarão por se juntar ao nome com mais hipóteses de vencer. “O partido está tão desorientado que as pessoas querem é agarrar-se a alguém”, comenta uma fonte próxima de Carneiro ao mesmo jornal, confiante de que a sua vantagem já é significativa.

Até sábado, tudo pode acontecer. A disputa interna no PS promete ainda vários capítulos, com a possibilidade de um novo nome surgir para unir o partido ou, em alternativa, com Carneiro a consolidar-se como inevitável.