Maria João Santos, antiga secretária de José Sócrates, admitiu esta terça-feira, no julgamento da Operação Marquês, que recebeu pagamentos em dinheiro entregue pelo motorista do ex-primeiro-ministro, João Perna, pelos serviços que prestou ao antigo governante após este regressar de Paris, em 2013.

A ex-secretária, que na altura trabalhava no Partido Socialista, explicou ao coletivo de juízes que não chegou a ter qualquer vínculo formal com Sócrates. Disse que o ex-governante lhe pediu para tirar uma licença sem vencimento e que, a partir daí, começou a prestar apoio de secretariado de forma informal.

“Nunca tive contrato. Era uma ajuda pelo trabalho que fazia”, afirmou. Segundo o seu testemunho, era sempre João Perna quem lhe entregava o dinheiro. As entregas, garantiu, aconteceram apenas na sua casa, em Azeitão. A testemunha rejeitou assim a ideia de que também ocorressem na sede nacional do PS, no Largo do Rato, como sugerem interceções telefónicas constantes do processo.

José Sócrates, de 68 anos, está a ser julgado por 22 crimes, incluindo três de corrupção. O Ministério Público defende que o antigo primeiro-ministro terá recebido dinheiro para favorecer interesses do grupo Lena, do Grupo Espírito Santo e do empreendimento turístico Vale do Lobo, recorrendo a intermediários e pagamentos em numerário.

Ao todo, o processo envolve 21 arguidos, entre os quais João Perna, que responde pelo crime de branqueamento de capitais.

O julgamento decorre desde 3 de julho no Tribunal Central Criminal de Lisboa e prolongar-se-á, pelo menos, até dezembro de 2025.